Drogas e Poemas
"Ainda me lembro com exatidão do efeito dessa injeção. Súbito fiquei totalmente desperto. Um sentimento de felicidade, estranho e difícil de descrever, tomou conta de mim."A morfina deu asas ao escritor suíço Friedrich Glauser (foto), na época da Primeira Guerra Mundial. Seu corpo tornava-se "um só sorriso", o cotidiano perdia a importância, o mundo parecia transmutar-se.
Durante o século 19, os autores procuraram conscientemente essa outra percepção do mundo, através das drogas. Para então descrevê-la, buscando novos caminhos poéticos.
Os poetas românticos foram os primeiros a explorar dessa forma o misterioso mundo do inconsciente. Assim, os Hinos à noite de Novalis (foto) foram compostos sob o efeito do ópio.Também o escocês Robert Louis Stevenson inventou num delírio alucinótico a dupla personalidade de seu Dr. Jekyll e Mr. Hyde. E, na França, o grupo de poetas ligados a Charles Baudelaire criou um verdadeiro "clube do haxixe".
Ode ao pó branco
No século 20, a droga da moda para os poetas foi a cocaína:
"A dissolução do eu, doce, profundamente desejada Tu me dás..."
Assim Gottfried Benn (foto) cantou em verso o pó branco. Secundado por William S. Burroughs, em seu romance autobiográfico Junkie:
"Se Deus jamais criou alguma coisa melhor, então ele a guardou para si."
Seja como for, pelo menos o LSD, a mescalina e os cogumelos mágicos, Ele não reservou para uso pessoal. As novas drogas estariam destinados a ampliar a consciência da geração seguinte de autores, os hippies.
Uma coisa é certa: a literatura mundial seria bem mais pobre, se todos os artistas fossem abstinentes e tão obedientes à disciplina burguesa como um Thomas Mann.
Mas quão real é esse vislumbre de outros mundos? O próprio Baudelaire (foto) já relativizava em seu poema sobre o haxixe:
"No universo tudo está em ordem."




"Speak To Me/Breathe" - 3:59